Powered By Blogger

segunda-feira, 27 de maio de 2013

o que quer que seja



Importa o que quer que seja que seja eu que diga?
Começar. Intervalar.
Colocar dentes ou perfumes. Vestir as roupas do avesso. Escalar o prédio pelas janelas. Andar pelo meio-fio a tarde toda entrando pela noite a madrugada adentro saindo pela aurora estar pisando ainda ali entre o asfalto e a calçada.
Importa afinal de contas o que quer que seja que eu diga?
Rombos na roupa. Tijolos em muro. Gastar todas as notas deitar só as moedas no balcão. Contar pelo vidro de trás do carro os carros todos parados em fila. Andar com as costas erguidas. Ou dobradas.
Importa a quem quer que seja o que quer que seja o que se diga?
Alfinetes abertos. Casas vazias. Poeira nos dedos e nos cantos dos olhos no cimo do nariz. Ouvir mãos que se fecham. Derreter com as artérias. Ir pela praça a subir uma perna alternada à outra em todos os bancos. Ver macacos. Olhar para cima. Sondar as capas de chuva que foram esquecidas pelas quadras. Vestir as botas e depois as meias. Encordoar os violinos os violões os pianos. Dedilhar unha a unha tecla a tecla.
Importa a quem quer que seja o que quer que seja afinal de contas que se diga?
Um dois três outro espaço ou pedaço o que quer que seja ou quem é que seja que vá coroar tinta a tinta uma outra maneira de dizer seja lá o que quer que seja que afinal se diga que diga diga.
(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar")

2 comentários: