Era no deserto. Eu
nunca ouvira falar das torres até então. Mas o que sabia era que daquele caldo
de luz quente onde submergira me faria outro me faria ver o que de mim não
supusera ser.
Era no deserto.
Todo o árido da areia era cor. Qualquer grão caco de multifacetada instância.
Tudo era brilho e um cavar dos pés no solo fino. Andar cavando pés num esforço
de pernas e o sol no crânio a travessia. Transbordar como se por paredes tênues
eu passasse. A amplidão era um obstáculo de garganta a me engolir e a digerir
meu corpo meus anteparos de pele e músculos e a me devolver a uma outra estada.
A madrugada ali e o
azul escuro universo a plantar-se no meu corpo imerso no agora que eu era.
E foi dali que eu
parti. Do espelho. Estava escuro, estava claro, você sabe, como sempre. Estava
no lusco ofusco amanhecer do dia. Era domingo era um domingo verde dia. Olhei
para mim dali do espelho e vi que o sol batendo por trás naquela janela do
outro cômodo me dava uma que acreditava ser. Uma.
Alma que perseguia
para não ver as inúmeras vidas que por mim passavam. Inúmeras e azuis. Umas que
morrem pelo que ignorei sentir. Umas que vivem do meu simples resistir. Do
inocente passar pelo plano da tela. As vidas que julguei não viver.
Uma fatia pequena
uma lenta fatia. Uma parte da vida do que dura para sempre. Para além do nunca.
Para além do sempre. Instante a instante fotograma a fotograma. Uma pequena
fatia.
Apenas uma alma o
que julguei ver.
Inúmeros portais
transpassados: lâminas recortadas que atravessam a linha do
passado-presente-futuro: o que houve o que há o que há de vir.
Lâminas lentas
projetadas por sobre um pano.
(extraído do livro "um mundo outro mundo".)
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